"Tenho
uma amizade com o Gilvam de longa data, mas isto não me obriga a concordar ou
me omitir ante a sua irreverência e brincadeiras. Nem o meu compromisso com o
governo PSB-PT a aplaudir os nossos erros.
Esta
“doideira” de governo paralelo é no mínimo usurpação de função pública por quem
não tem mandato e investidura legal, além de subversão da ordem legitimamente
constituída pela soberania popular. A inspiração na idéia do governo paralelo
de Lula é uma justificativa enviesada de alguém que não quer fazer crítica,
oposição legítima e responsável ao governo, mas simplesmente atrapalhar a
administração pública com bravata e balburdia, visando a promoção pessoal.
A idéia
do governo paralelo proposta por Lula, após a derrota de 1989, assim como
ocorre nos países de sistema parlamentarista, vislumbrava um gabinete que
pudesse criticar o governo e propor soluções. Jamais substituir o governo
eleito pelo voto popular e assumir e executar suas funções.
Imaginemos
o Lula como “presidente paralelo” se metendo a asfaltar a
Transamazônica com o argumento de que o governo demorou para realizar a obra; ou ainda, na iminência do apagão de 2001/2002, se aventurar a construir a usina hidrelétrica de Belo Monte? Serviria de chacota e não faltariam conselhos para que procurasse um tratamento médico.
Transamazônica com o argumento de que o governo demorou para realizar a obra; ou ainda, na iminência do apagão de 2001/2002, se aventurar a construir a usina hidrelétrica de Belo Monte? Serviria de chacota e não faltariam conselhos para que procurasse um tratamento médico.
Uma
coisa é questionar a ordem ilegítima estabelecida por um golpe que eliminou as
garantias constitucionais e acabou numa ditadura, como ocorrido em 1964. Contra
esta ordem ilegítima, a sociedade brasileira lutou durante vinte anos. Foi um
longo e sofrido caminho até conquistarmos a liberdade e a democracia. Por isso,
é triste ver pessoas que, simplesmente por discordar do governo, se alegram e
até incentivam esta lambança promovida por alguém que parece emocionalmente
impactado e inconformado com sua derrota, e se insurge contra a vontade do povo
amapaense.
Se há
um inconformismo com a administração pública, que se exerça o legítimo direito
de oposição, com críticas, denúncias, acionando os dispositivos legais a
disposição de todos. Mas querer substituir o governo com pirotecnia e
balbúrdia, isto é intolerável e merece o repudio dos democratas, principalmente
aqueles que lutaram contra o arbítrio.
Este
“paralelismo” usurpa ou pelo menos diminui e ofusca o papel dos órgãos que tem
a obrigação de fiscalizar o controlar o governo, como a Assembléia, o
Ministério Público e o Tribunal de Contas. Não é de se estranhar que,
insatisfeito com o desempenho desses órgãos, Gilvam anuncie uma estrutura
paralela para exercer suas funções. Na medida em que o Gilvam determina as
prioridades, o dia e a hora que o governo tem para executar um serviço ou obra,
pra atender as demandas da população, ele avoca pra si as funções e decisões de
todos os poderes.
O
governo paralelo é divertido e faz-nos rir, pode e deve fazer oposição e tentar
desgastar o governo, mas ninguém tem o direito de tratar com brincadeira e
deboche a liberdade e a democracia que conquistamos com muita luta".
(Lourival
Freitas, ex-deputado federal PT-AP)
Outra visão...
"O governo do PSB tem vociferado noite e dia contra o governo paralelo anunciado por Gilvam Borges. Nas redes sociais há um exército de zumbis enfileirado, repetindo as palavras de ódio do senador coronel João Capiberibe. Sem necessidade. O governo paralelo nada mais é que uma oposição organizada, que questiona, denuncia, aponta erros e apresenta alternativas para os problemas que muitas vezes parecem insolúveis. Simples assim.
O que incomoda os governistas é que Gilvam se levanta contra a insuportável miséria administrativa, na qual o PSB afundou o Amapá. Aliás, a bandeira da oposição responsável não deveria ser levantada somente por Gilvam, mas por todos aqueles que têm independência ou que dizem tê-la. No entanto, uns estão pescando, alguns esperam a poeira baixar e outros fazem belos discursos e fingem não ver que o governo gasta mais de três milhões na residência oficial, enquanto o povo sofre e morre nos hospitais. Ou essas lideranças políticas são coniventes com o caos que se instalou ou no mínimo, são omissas. Das duas, uma.
Hoje o governo paralelo é um exército de um homem só. Mas é muito grande a insatisfação popular com quem prometeu a mudança e promoveu a desgraça. No entanto, esse tipo de oposição não é uma invenção de Gilvam. Até o ex-presidente Lula já liderou um gabinete paralelo para denunciar as “maracutaias” do governo oficial. No Amapá, temos Camilo como governador de direito (que foi eleito), subordinado a João Capiberibe, governador de fato (que manda). Além de um governo chefiado pela mãe Janete e outro sob o comando da esposa Cláudia, sem cargo ou mandato, mas com gabinete vizinho ao de Camilo no Setentrião. Ou seja, três governos paralelos superiores ao oficial, criados pelo PSB.
Numa democracia consolidada como a nossa, dizer que a iniciativa de Gilvam é tentativa de golpe é no mínimo imbecil. Por mais caótico e incompetente que seja o governo do PSB, ele é legítimo. Somente a Assembléia Legislativa tem a prerrogativa legal de interrompê-lo. Mas não há nem sinal de que isso possa acontecer. O discurso do golpe é a combinação de covardia e paranóia.
O fato é que o governo do PSB está muito atrapalhado para enfrentar uma oposição organizada. Daí a explicação para tanto medo e ódio. Se os pequenos ditadores de amarelo não gastassem todo tempo com brigas e a busca cega pelo poder, a administração não estaria mergulhada na inércia. 2012 é ano de eleição. O que é ruim pode ficar bem pior. Se o governo oficial não age pelo dever constitucional, que o faça pela pressão do governo paralelo, então!"
Artigo assinado por *Silvio Sousa, jornalista, assessor de imprensa e apresentador do programa jornalístico "O Estado É Notícia"
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