quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

PESQUISA COM USUÁRIO DE CRACK

A pesquisa com os usuários de crack no centro de São Paulo foi realizada entre os dias 11 e 12 de janeiro de 2011, menos de uma semana após o início da operação da Polícia Militar, coordenada pelo governo do Estado de São Paulo e pela Prefeitura de São Paulo, para coibir o tráfico e o uso de crack na região conhecida como “cracolândia”, no bairro do Bom Retiro, nas proximidades da Estação da Luz. No levantamento, quatro equipes de três pesquisadores entrevistaram 188 usuários de crack. O perfil retratado na pesquisa mostra que o público-alvo da ação dos governos estadual e municipal é, em sua maioria, do sexo masculino, tem baixa escolaridade, é parda, mora nas ruas do centro de São Paulo, tem filhos e obtém renda a partir de trabalhos informais. 
Entre os usuários de crack abordados, 84% são homens, e 16%, mulheres. No universo feminino, 90% têm filhos (ante 66% dos homens). A fatia de jovens de 16 a 24 anos representa 18% do total de entrevistados. O maior grupo etário, de 25 a 34 anos, abrange 45% dos usuários, e aqueles que têm 35
anos ou mais são 37%. É um perfil diferente do verificado entre a população adulta de São Paulo, para a qual as proporções são de 20% (de 16 a 24 anos), 24% (de 25 a 34 anos) e 57% (35 anos ou mais). A média de idade dos moradores de São Paulo fica em 40,1 anos, e de 32,6 para os usuários de crack. Um grupo de 44% dos entrevistados no centro de São Paulo declara ser pardos, e os demais se dividem entre brancos (22%), pretos (22%), morenos (6%), amarelos (2%) e indígenas (2%). Entre os moradores de São Paulo, a maior fatia é representada pelos que dizem ser brancos (44%), seguida por pardos (32%) e pretos (13%), entre outras cores auto-atribuídas. 
Dois de cada três (64%) dos entrevistados no centro de São Paulo estudaram até o ensino fundamental, e 36% passaram desse estágio, chegando aos ensinos médio ou superior. Entre a população de São Paulo, a taxa dos que estudaram até o ensino fundamental fica em 38%, enquanto 44% têm ensino médio, e 17%, ensino superior. A fatia dos usuários de crack que fazem parte da PEA (População Economicamente Ativa) fica em 71%, similar ao dos moradores de São Paulo (73%). Entre os que usam a droga, porém, 45% dizem fazer bicos e 2% são assalariados registrados, índices que ficam em 17% e 28%, respectivamente, entre a população adulta de São Paulo. 
Quanto à religião, 34% dos usuários de crack ouvidos são católicos (ante 55% para a média da cidade), 27% não têm religião nenhuma (ante 9% para a méida da cidade), evangélica pentecostal (23%, ante 18% para a média da cidade) e 4% dizem ser evangélicos pentecostais, espíritas ou adeptos do candomblé e outras religiões afrobrasileiras (as média dos moradores de São Paulo adultos para essas religiões ficam em 7%, 7% e inferior a 1%, respectivamente). 
O índice de casados, entre os usuários de crack do centro de São Paulo, é de 19% (ante 45% entre os moradores de São Paulo adultos). Os demais se dividem entre solteiros (62%, ante 41% entre os moradores de São Paulo), separados, divorciados (18%, ante 8% entre os moradores de São Paulo) e viúvos (1%, ante 5% entre os moradores de São Paulo. Sete em cada dez desses usuários de crack (70%) têm filhos (ente a população adulta de São Paulo esse índice fica em 60%), sendo que 26% dizem ter um filho (19% entre a população adulta de São Paulo) e 16% têm quatro filhos ou mais (8% entre a população adulta de São Paulo). No grupo de usuários de crack que diz não ser casado, apenas 18% têm namorado ou namorada. 
Entre os usuários abordados, 77% disseram viver na rua, 9%, em casa ou apartamento, 4%, em pensão ou hotel, 2%, em prédio invadido ou ocupação, e 1%, em albergues. No grupo majoritário que diz viver na rua, 15% dizem viver na rua há menos de um ano, 15%, de um a dois anos, 9%, de dois a quatro anos, 9%, de quatro a sete anos, e 20%, há mais de anos. O índice dos que disseram morar sozinhos atinge 71%. 
Um em cada três (36%) dos indivíduos entrevistados no levantamento atual nasceu na capital, e outros 25% em outras cidades do Estado de São Paulo. Disseram ter nascido na região Nordeste 28% dos usuários. 
O Datafolha perguntou aos usuários de crack que afirmaram trabalhar o que exatamente faziam. O maior número de citações (24%) foi para respostas relacionadas à coleta venda para de materiais encontrados nas ruas – latas para reciclagem, por exemplo. Um grupo de 7% afirmou prestar serviços de pedreiro, ajudante de pedreiro ou pintor, 6% disseram ser carregadores/descarregadores, 6% disseram ser flanelinhas ou trabalhar em semáforos, 5% declararam ser vendedores ambulantes e 3% disseram ser prostituas, entre outras respostas. Quanto ao ganho obtido nesses trabalhos, 12% disseram ganhar até R$ 20 por dia, 23%, de R$ 20 a R$ 50 por dia, 8%, de R$ 50 a R$ 100, e 17%, um valor acima de R$ 100. A média obtida com esses trabalhos, por dia, é de R$ 30. 
Entre a maioria que disse não ter carteira registrada (98%), 65% já tiveram trabalho fixo, com carteira registrada. 
Questionados sobre quantas vezes tinham comido no dia anterior à pesquisa, 27% afirmaram ter comido uma só vez, e 17% disseram não ter comido nenhuma vez. Outros 16% afirmaram ter comido duas vezes, 14%, três vezes, 23%, quatro vezes ou mais.
Três de cada dez usuários de crack entrevistados (29%) começaram a usar a droga com menos de 15 anos, sendo que 6% usaram o crack com menos de 10 anos. Uma fatia de 23% diz ter começado a fumar crack quanto tinham entre 15 e 20 anos, 16%, quando entre 21 e 25 anos, 14%, quando entre 26 e 30 anos, e 14% quando tinham mais de 30 anos. Três de cada dez usuários (37%) abordados dizem fumar até 5 pedras de crack por dia. Os que fumam de 6 a 10 pedras por dia somam 27%, e os que usam de 11 a 20 pedras são 16%. Uma fatia de 5% afirmou usar mais de 20 pedras, e 12% não souberam responder sobre a quantidade usada. Em média, eles disseram usar 9,4 pedras de crack por dia. O Datafolha também perguntou sobre os valores gastos com a droga diariamente: 12% afirmaram gastar até R$ 20, 18%, de R$ 20 a R$ 40, 17%, de R$ 40 a R$ 60, 18%, de R$ 60 a R$ 100, e 20%, mais de R$ 100. Houve ainda 15% que não souberam responder quanto gastam com a droga por dia. Diante desses valores, a média de gasto com crack por dia, entre esses usuários, ficou em R$ 87. 
Metade dos usuários (54%) afirmou já ter buscado algum tipo de tratamento para largar o crack (entre aqueles que fumam crack há até 3 anos, esse índice é de 43%). A fatia dos que afirmaram que irão buscar tratamento para largar o crack daqui para frente abrange 69% dos usuários abordados no centro de São Paulo.
O uso de outras drogas além do crack é bastante difundido entre os entrevistados: 65% disseram consumir outras drogas, com destaque para maconha (43%, índice que fica em 62% no grupo de 16 a 24 anos) e cocaína (30%). O oxy foi mencionado por 3%. O Datafolha também fez uma pergunta específica sobre o uso de álcool, e nesse caso 68% disseram ingerir bebida alcoólica, Metade (53%) afirma ingerir bebida alcoólica todos os dias.

Fonte: DATAFOLHA

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