quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

O sofrimento à espera de uma cirurgia no Hospital Alberto Lima

Equipamentos de anestesia estão com defeito por falta de manutenção porque não existe contrato com empresa para garantir os serviços.

Não bastasse a incapacidade do governo em garantir a segurança pública – deixando nas ruas um profissional despreparado para assumir funções de trabalho ostensivo –, o Estado também não repara os danos causados à família de Rafael Ruzicka. O economista, de 25 anos, foi baleado pelo soldado da Polícia Militar (PM/AP), José Adriano Melo de Souza, ao ser confundido com um assaltante quando chegava a casa dele, no bairro do Congós.


Naquele dia, 4 de fevereiro, Rafael foi atendido no Hospital de Emergências de Macapá (HEM) e em seguida encaminhado ao Hospital de Clínicas Alberto Lima (HCAL), onde está internado há 24 dias. Ele teve a cirurgia para operar o rosto, desmarcada por quatro vezes. Assim como outros pacientes que precisam fazer cirurgia, o economista não sabe exatamente o motivo dos cancelamentos. “Uma hora dizem que está tendo briga de anestesista. Outra hora, que não tem carrinho para transportar o material anestésico”, indigna-se a mãe de Rafael, Solange Conceição Ruzicka.
Solange conta que a família está arcando com os custos que deveria ser feito pelo Estado, comprando os medicamentos necessários para atenuar as fortes dores que Rafael sente no rosto. O paciente – que já encontra dificuldades para comer e falar por causa do machucado – fica em vão, em jejum para fazer a cirurgia, já que é informado no dia seguinte da marcação, que não haverá o procedimento.
Acamado, Rafael teve os planos de prestar concurso público para o Corpo de Bombeiros do Amapá (CBM/AP) interrompido pela falta de assistência e despreparo do Estado.
Ortopedia
No setor de Ortopedia do Hospital de Clínicas Alberto Lima, outros pacientes também aguardam por cirurgias. Há um mês internado, o garçom Ediney dos Santos Pereira, 23 anos, teve a dele marcada para quinta-feira, (1º). Ele fraturou a perna direita em acidente de moto na rodovia Duca Serra.
O funcionário público José Ronaldo do Nascimento Brito, 53 anos, é outro paciente que aguarda pelo procedimento. Ele passou 14 dias internado no Hospital de Emergências quando, também sofreu acidente de moto no cruzamento da Rua Odilardo Silva com Av. Fab. Depois foi encaminhado ao HCAL, onde está internado há 17 dias com a perna esquerda fraturada.
A esposa de José Ronaldo, Maria de Lourdes Cordeiro Brito, disse que chegou a entrar em depressão ao ver a situação do marido, que teve que interromper o curso de Direito. E também por contemplar o sofrimento de vários pacientes não só no Hospital Alberto Lima, como também no Hospital de Emergência. “Não tem analgésico, nem anti-inflamatório. Tivemos que comprar Voltarem e Dipirona porque não tem aqui no HCAL”, diz ela.
Anestesias

O presidente do Sindicato dos Médicos (Sinmed), Fernando Nascimento, disse ontem (27) que as cirurgias do Hospital Alberto Lima estão suspensas porque os equipamentos de anestesia estão com defeito. E que isso decorre da falta de contrato com empresa responsável pela manutenção dos serviços. O médico explicou que se estes aparelhos não estiverem bem calibrados, o paciente pode vir a óbito quando voltar da anestesia. O doutor Fernando informou ainda, que um médico ortopedista chega a ficar com até 150 pacientes a espera de cirurgia.
Ele também relatou as condições inadequadas das duas salas de procedimento cirúrgico. “Antes as salas tinham um fluxo laminar, o que possibilitava a circulação de ar estéril, como deve ser o ambiente cirúrgico. Mas a falta de manutenção das centrais, substituiu a circulação de ar adequada por essas que a gente utiliza em casa”, disse o médico.
O Secretário de Estado da Saúde, Edilson Pereira, confirmou que não existe empresa responsável pela manutenção dos quatro carros de anestesia do Hospital Alberto Lima. Mas que o concerto já está sendo providenciado. Com a abertura do orçamento 2012, será dado andamento na licitação para contratar empresa para o serviço. E também para as outras demandas da rede estadual, como o abastecimento de medicamentos.

A Gazeta

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