domingo, 12 de maio de 2013

AS AVENTURAS DE PI - Esta é a minha versão da história. Qual é a sua?

Não faz parte de minha pretensão aqui narrar em detalhes o filme, pois minha verdadeira intenção é de que você possa assisti-lo. 
“As Aventuras de Pi” (The Life of Pi), filme mais premiado do Oscar de 2013 (Melhor Fotografia, Melhores Efeitos Visuais, Melhor Trilha Sonora e Melhor Diretor), aparentemente parece apenas se tratar de um longa com belas imagens que enchem os olhos do telespectador.
O filme, resumidamente, se trata da história de Pi (Piscine Molitor), que é filho do dono de um zoológico localizado em Pondicherry, na Índia. Após anos cuidando do negócio, a família decide vender o empreendimento devido à retirada do incentivo dado pela prefeitura local. 
A solução encontrada pelo pai de Pi é se mudar para o Canadá, onde poderiam vender os animais para reiniciar a vida. Entretanto, o cargueiro onde toda a família viajava acaba naufragando devido a uma terrível tempestade. Pi consegue sobreviver em um bote salva-vidas, mas precisa dividir o pouco espaço disponível com um tigre de bengala chamado Richard Parker. 
A estrutura narrativa do filme é simples, inicia com o protagonista, ou seja, Pi, interpretado por Irrfan Khan, já adulto, contando a um escritor (Rafe Spall), as aventuras que experenciou em um bote salva-vidas.
O filme é repleto de simbolismos e significados. O conteúdo latente possui a pretensão de aprofundar sobre questões teológicas, filosóficas e psíquicas. Tornando-o sedutor e traiçoeiro.
A primeira questão a ser levantada pelo autor é acerca da existência de um ser supremo e a forma como os seres humanos buscam se relacionar com ele. O filme também provoca um processo de reflexão sobre as diversas motivações que levam o ser humano a buscar DEUS. No caso específico de Pi observa-se que a solidão e necessidade de busca pelo perdão tornaram-se parte dessas motivações. 
É impressionante como o filme demonstra a importância da religião, não somente como aspecto cultural (uma vez que são abordadas várias religiões), mas também como um meio de defesa do aparelho psíquico para que o ser humano não perca o autocontrole, chegando à desenvolver o processo de loucura. 
Do ponto de vista teológico, observa-se que o filme trata do conflito existente entre religião e ciência através da visão de Pi - que defende claramente a ideia de que todas as religiões podem conduzir a DEUS - e de seu pai, o qual é retratado como materialista e defensor da ciência como fonte última da verdade. Além disso, é trazida como foco de discussão, a visão relativista que permeia a escolha do ser humano em seguir ou não, uma ou outra religião com o intuito de ir ao encontro de DEUS.
Destaco também alguns momentos em que o autor nos remete à situações do nosso próprio cotidiano e a forma como "tentamos" nos relacionar com DEUS.  O jovem Pi busca respostas à suas perguntas, às suas angústias, às suas perdas e no auge do conflito interno faz orações, ora pedindo auxílio, depois agradecendo e se despedindo da vida, e em outros momentos, se revolta contra DEUS. 
Quanto aos personagens, devo admitir que achei incrível a ideia de colocar animais representando seres humanos. Contudo, gostaria aqui de falar somente sobre o Tigre, por acreditar que essa foi a grande sacada do autor.. 
Podemos interpretar Richard Parker como uma alusão à natureza primitiva e instintiva de Pi - essa associação se confirma quando Pi se vê ao olhar fixamente nos olhos do animal (nós projetamos nos olhos dos outros o que há em nós mesmos). Pois bem, ao longo do filme, Pi precisa enfrentar seu lado sombrio, instintivo e cruel, ou seja, esse "lugar" que existe dentro dele (ou seja, de todos os seres humanos) e que foi provocado a se revelar a partir da morte de sua mãe. De igual modo, Pi também precisava garantir sua própria sobrevivência.
Se pensarmos em nós mesmos, como será que reagiríamos diante do assassinato de alguém que nos proporcionou a vida? Quantas vezes gostaríamos de externar todos os nossos desejos mais maléficos e repugnantes quando estamos diante de situações limite? O que faríamos para 
garantir nossa sobrevivência ou de pessoas importantes em nossas vidas? 
Especialmente, achei interessante a lógica do filme em utilizar o tigre Richard Parker, uma vez que remete ao processo de introjeção feito pelo pai de Pi, em uma situação onde o jovem, quando criança, tentava alimentar o animal e foi repreendido pela figura paterna. A partir de então, Pi compreendeu que determinados animais possuem uma natureza traiçoeira e perigosa, portanto, o ideal seria não afrontá-los. Analisando essa informação apresentada no filme, poderíamos estão inferir que o pai de Pi quis dizer: "filho, não tente trazer a tona a natureza perversa que existe dentro de você, pois você poderá não suportá-la. É preciso ter sensatez e autocontrole". 
O oceano, o qual é bastante evidenciado no filme, representa o nosso inconsciente. Uma natureza ora encantadora e que proporciona o alimento necessário para a sobrevivência e, em outros momentos, se mostra apavorante e com um furor destrutivo. 
Sem dúvida, o auge da perversidade psíquica vivenciada por Pi, ocorre na ilha "carnívora", pois para um jovem vegetariano, ver o tigre alimentar-se de animais seria, necessariamente, deixar de vez o resto das crenças que ainda possuía. Por isso, a ilha acabaria matando Pi, ou seja, o processo de loucura tomaria conta dele. 
No final, quando Pi volta a civilização é preciso que o "Tigre" retorne para a floresta do inconsciente e que a razão assuma seu lugar, o do consciente.

Esta é minha versão da história. Qual é a sua? 

Por Elizabeth Guedes

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