JAMAIS ESQUECI “TIA” HELENA
Aos 7 anos comecei
estudar na Escola de Vila Amazonas, administrada pela ICOMI, e lá encontrei
pela primeira vez a professora Helena. Ou, para as crianças traquinas e meio
mimadas que éramos, Tia Helena.
Tia Helena era um misto de professora durona e maternal. Era uma pessoa de
dedicação incansável. Sempre muito carinhosa, competente e disciplinadora,
mantinha sua turminha com rédeas curtas, mas sem excessos ou gritarias... Essa
mistura de autoridade e ternura foi marcante para mim.
No início, só ia arrastado para o Colégio. Não por preguiça, mas por falta de
costume de estar longe de casa e longe de minha mãe. Muitas vezes, Tia Helena
chegava para uma sessão de choramingos. Ela sempre estava lá. Nunca falhou!
Conto isso agora, porque essa mistura de dureza e de bom humor que
caracterizava Tia Helena me marcou profundamente, fazendo que a tomasse como
exemplo para minha vida profissional.
Hoje ouço professores dizerem, com toda franqueza, que não gostam da profissão
que escolheram e, o que é pior, detestam seus alunos. Não discuto sobre a
decisão deles permanecerem exercendo o Magistério. Apenas não concordo coma
decisão e fico pensando o que seria de mim se tivesse caído nas mãos de um
deles.
Tia Helena foi diferente. Soube apostar nas suas crianças, mesmo que ninguém
apostasse nela. Soube enfrentar com o ânimo o sacrifício da profissão que
escolhera. E soube reivindicar, por todos os meios, os direitos legais que
tinha, mas sem prejudicar seus alunos.
Hoje, olho para mim e digo a mim mesmo: Que professor sou eu? Teria dificuldade
de explicá-lo aos outros. Mas sei que se um professor não aposta num futuro
brilhante para seu aluno, então não adianta guardar na gaveta o diploma que
recebeu. Não tenho o direito de reprovar um aluno, se não luto para que ele
também tenha uma vida feliz. Como não querer para os outros o que eu tenho? Uma
casa, água de torneira, chuveiro, mesa, cadeira e cama... E, se passo fome, é
porque me atraso ou me descuido, porque comida eu tenho. Nos dias frios eu
tenho bons agasalhos. No verão eu até posso pegar um carro e ir uns dias a um
balneário. Como não querer este mínimo conforto para todos?
Sem exagero nenhum, aprendi ser o professor que sou observando Tia Helena. Eu
não caí no Magistério de pára-quedas. Eu tenho raízes. Uma delas são os
exemplos deixados por Tia Helena, que acreditou no menino humilde que eu era, e
em deu a chance de desenvolver os meus valores.
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