terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Crônicas de Paulo Rogério


JAMAIS ESQUECI “TIA” HELENA

Aos 7 anos comecei estudar na Escola de Vila Amazonas, administrada pela ICOMI, e lá encontrei pela primeira vez a professora Helena. Ou, para as crianças traquinas e meio mimadas que éramos, Tia Helena.
Tia Helena era um misto de professora durona e maternal. Era uma pessoa de dedicação incansável. Sempre muito carinhosa, competente e disciplinadora, mantinha sua turminha com rédeas curtas, mas sem excessos ou gritarias... Essa mistura de autoridade e ternura foi marcante para mim.
No início, só ia arrastado para o Colégio. Não por preguiça, mas por falta de costume de estar longe de casa e longe de minha mãe. Muitas vezes, Tia Helena chegava para uma sessão de choramingos. Ela sempre estava lá. Nunca falhou!
Conto isso agora, porque essa mistura de dureza e de bom humor que caracterizava Tia Helena me marcou profundamente, fazendo que a tomasse como exemplo para minha vida profissional.
Hoje ouço professores dizerem, com toda franqueza, que não gostam da profissão que escolheram e, o que é pior, detestam seus alunos. Não discuto sobre a decisão deles permanecerem exercendo o Magistério. Apenas não concordo coma decisão e fico pensando o que seria de mim se tivesse caído nas mãos de um deles.
Tia Helena foi diferente. Soube apostar nas suas crianças, mesmo que ninguém apostasse nela. Soube enfrentar com o ânimo o sacrifício da profissão que escolhera. E soube reivindicar, por todos os meios, os direitos legais que tinha, mas sem prejudicar seus alunos.
Hoje, olho para mim e digo a mim mesmo: Que professor sou eu? Teria dificuldade de explicá-lo aos outros. Mas sei que se um professor não aposta num futuro brilhante para seu aluno, então não adianta guardar na gaveta o diploma que recebeu. Não tenho o direito de reprovar um aluno, se não luto para que ele também tenha uma vida feliz. Como não querer para os outros o que eu tenho? Uma casa, água de torneira, chuveiro, mesa, cadeira e cama... E, se passo fome, é porque me atraso ou me descuido, porque comida eu tenho. Nos dias frios eu tenho bons agasalhos. No verão eu até posso pegar um carro e ir uns dias a um balneário. Como não querer este mínimo conforto para todos?
Sem exagero nenhum, aprendi ser o professor que sou observando Tia Helena. Eu não caí no Magistério de pára-quedas. Eu tenho raízes. Uma delas são os exemplos deixados por Tia Helena, que acreditou no menino humilde que eu era, e em deu a chance de desenvolver os meus valores.


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